disclaimer: esse é um texto bem pessoal e não deve ser levado como verdade, estou escrevendo isso antes de escrever mas não pretendo postar. se você quer um texto fofo de dias das mães você não vai encontrar aqui.
Querida mamãe,
Eu sempre tive uma rixa com dias das mães, eu via e achava (vejo e acho) lindo os grandes textos de declarações para suas mamães e tudo que eu conseguia sentir é a pura inveja.
é verdade que eu sou imatura em relação a isso, minha mãe esta ao meu lado, mas nao é bonito, nao é “minha mãe é a mais gentil e forte que eu conheço”, muitas vezes eu so me conecto com ela pelo choro, pelo sofrimento.
eu era uma criança egoista que sempre deu mais atenção pro pai, gostava de quando ela viajava e eu me arrependo. devia ter sido repreendida. foi só quando eu cresci que eu comecei a enxergar ela e toda a sua beleza.
mas e todas aquelas memórias da infância? manchadas com nossas brigas, com um sentimento que eu guardei dela e que se reflete ate hoje. eu era a menina que nunca se deu bem com a mãe.
era como fossemos da mesma terra, mesma língua mas tudo que sabíamos fazer era duelar, nunca unidas, nunca juntas. enquanto em minha vó eu encontrei o acolhimento (as duas avós).
O ponto disso tudo é que: Minha mãe não é um monstro. e eu demorei pra aceitar isso.
nos duas temos contrapontos, mas jeitos muitos parecidos. Uma vez eu aprendi na aula de biologia que dois animais dominantes juntos não conseguem conviver em harmonia.
e eu sou igualzinha a ela.
ela já sofreu muito por minha causa, eu já causei muita enxaqueca na vida dela. ela não me entende, mas pra falar a verdade nem eu me entendo. e aposto que isso funciona vice-versa.
e entao eu me sinto culpada, porque minha mãe nao tem mais mamãe. no dias das mães ela nao tem quem abraçar além de mim, a mesma ingrata e chata. mas no final, a gente nao se entende, mas a gente se compreende como ninguém.
já tivemos momentos muito mas muito piores, era como viver numa casa com um fantasma. quando eu me assumi.
Uma noite, num dia ordinário de novembro, eu consegui acabar com a paz na minha casa. até hoje estou longe de confortável de falar sobre esse assunto.
Dizem que existem 5 estágios do luto, mesmo ninguém tendo morrido, eu vi minha mãe passar por todos e por minha culpa.
Quando você tem um filho ou uma filha, você cria expectativa neles, quer que eles sejam de tal forma e então você se imagina com eles e etc
é linda a imaginação da minha mãe com sua filha médica, perfeita, casando com um homem. e feia a realidade dela com uma garota, fazendo sei lá oque da vida.
Durante esse tempo oque passava na minha cabeça era: ela me ama, ela precisa me amar não quer dizer que ela goste de mim. então eu me apoiava nesse sentimento de que ela me ama e isso bastaria.
mas quando se convive com alguém que parece que não gosta de você por quem você é o sentimento de rejeição é inevitável.
E as brigas diárias, o se trancar no quarto por um dia ou mais, você cria uma casca ou escudo contra essa situação e querendo ou não um ódio por quem te chama de desgosto.
eu guardei as cartas que escrevi nesse momento da minha vida e eu me sinto estranha de ter escrito tudo aquilo sobre a pessoa que eu amo, e sinceramente tenho medo de confundir esse ódio como amor. não que eu deixe de amar ela.
a verdade que esse desgostar da minha mãe nessa época veio da necessidade dela gostar de mim, e eu só queria uma pessoa que me apoiasse durante esse momento tão importante do meu desenvolvimento.
Eu comecei a fazer sessões de terapia, conversei com muitas amigas (um beijo para a minha melhor amiga) e com minha namorada pois nos garotas que amamos, gostamos de outras garotas nos entendemos como ninguém.
No final depois de muitas sessões, todo esse fogo e guerra estão cessando lentamente. hoje em dia minha mãe está bem melhor e eu também!
eu gosto de lembrar todo esse acontecimento como acontecimento canônicoKKKKK
e todo o depois como o presente que o tempo deu pra mim.
Depois de depositar todo meu sentimentos ruins na parte acima do texto, agora eu nao vou deixar a criança egoista nem a adolescente revoltada falar e sim como filha.
eu amo minha mãe, mesmo com todos esses problemas no final nos estamos bem e nunca ficamos tão felizes juntas. ela sempre é tão importante pra mim e nos dias mais difíceis ela esta ao meu lado (dando sermão ou não).
Ela é o meu reflexo, o espelho de quem eu vou ser ou até mesmo já sou. eu puxei tudinho da minha mãe.
o intuito de tudo que eu falei acima não foi para culpar ela por tudo, eu também sou chata e quero ter a razão em tudinho, eu que as vezes falo mais alto sou grossa. Mas quando eu quebro esse espelho em cacos de vidro ela me ajuda a colar e vice-versa.
Minha mãe não é minha inimiga e nem amiga, ela é minha companheira de destino estamos laçadas juntas para sempre. as vezes eu acho que é coisa de vidas passadas, um trabalho cármico (o que seja que isso signifique).
Para concluir, eu acredito que existam outras meninas como eu e que me entendam que o dia das mães é um diagnóstico e que no final, nos somos igualzinhas a elas.